domingo, abril 06, 2008

no autocarro, ela olhou para a paragem e susteve a mirada: a rapariga vulgarmente vestida abrigava-se ali, corpo hirto do frio das chuvas de abril. só mexia os olhos para seguir por segundos cada vulto que saia do veículo. o seu olhar movia-se entre cá e lá, como se estivesse a assistir a uma partida de ténis. a bola eram elas,... seguia uma com o olhar, dois ou três passos e voltava de imediato para a porta, detendo-se noutra, e depois noutra... de dentro, não podia ver-lhe nada mais que esse movimento anódimo de seguir o isco. havia tempo, praticara eu mesma esse tipo de jogo, bestial e inofensivo: medir-lhes os olhos, a boca, o perfil; apurar os sentidos, imaginar de onde vinham e onde se recolhiam; dariam conta que reparava nelas? pensar nas razões da solitária brincadeira, porque me divertia assim, como me entretinha, revelou-se um suave perfume. como se a catarse chegasse à mente antes das marcas ao corpo.

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