domingo, janeiro 03, 2010

provavelmente o meu erro fatal foi não levar a sério as tuas 'advertências': eu não te tenho um amor assim tão grande, eu não te mereço, eu ainda te vou magoar... mas como levar a sério palavras que me soavam sempre como uma chamada de atenção de alguém que precisava de ...atenção justamente, carinho, estímulo, de ser elogiada... apreciada! ingenuidade minha, talvez, que só acredito no que quero. ao mesmo tempo, aquelas palavras matadoras eram intercaladas com outras: queria ficar contigo aqui assim sempre, um dia ainda vamos ter um filho, és uma das (#3) pessoas que mais amo no mundo... estar sozinha contigo dá-me paz.
noutros dias avisavas: não podes ter um animal de estimação, porque quando vivermos juntas a minha gata não suporta outros animais; compra a cómoda branca, porque ficará bem no nosso quarto; quando eu viver contigo vamos ter de arranjar uma casa maior, preciso de um sítio para pintar; sabes, amor, andam à procura de uma pessoa da minha área, numa agência daí, e achas que posso ter hipóteses? vou arranjar o curriculo.

hoje olho para a máquina de café laranja, para a aparelhagem branca - ao teu gosto - e pergunto-me: em que é que eu falhei? onde é queme distraiste? em que mentiras escarradas não percebi o engodo, piamente crédula?! que faço agora com estas memórias, e as outras que íamos viver?! que faço das promessas por cumprir: florença, a escócia, sagres e duas quintas? queria levar-te a montesinho, pela beira alta nevada, e já não vamos.

queria mergulhar nos teus olhos e não os tenho. queria perceber onde foi que ficaram cinzentos. impossível. fazes como se tivesses morrido, e eu sei que não morreste. és um fantasma demasiado presente. e como todos os fantasmas há pelo menos um dia em em que se reencontram com os entes queridos e menos queridos. e então? estranham-se? impossível exigir que não te apareça à frente, - tão iverosímel como se a exigência fosse minha - a menos que tenhas um radar que te indique todos os meus passos. mas hoje - repara - tu nem sabes se tenho trabalho, se estou doente, se estou sem emprego, se vivo em nenhures ... não sabes, nem queres saber. tens esse direito o que não te garante que o teu desejo seja uma ordem cega. não fosse esse desvario sem travão, essa inclemência gélida, e verias que ninguiém merece isto, eu tão pouco! o que mais dói é tu recusares, a ti própria, decidires a tua vida. a tua deriva é uma sina. até quando?

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